terça-feira, 30 de maio de 2017

Telhados de vidro, quem não os tem?

Cara ragazza!!

<<Preparem-se que isto hoje vai ser polémico!>>
(Depois não digam que não vos avisei...)

Escrevo-vos depois deste fim-de-semana o assunto em questão ter sido LI-TE-RAL-MEN-TE a gota de água.

Por diversas vezes, demasiadas até, tentei disfarçar o desconforto de certas perguntas com gargalhadas, silêncios ensurdecedores, fingir-me surda e até dar-me ao trabalho de enumerar argumentação sincera e lógica para mim (uma vez que se trata de um assunto sem respostas "certas" ou "erradas"). Afinal, cada um sabe de si e Deus sabe de todos, verdade?!

Todavia, nem sempre é isso que acontece... Ou eu não vivesse rodeada de pessoas que carregam consigo o direito e o dever de pregar aquilo que é a sua realidade aos outros. E espasmem-se! A maioria delas nem moral têm para abordar o assunto, mas isso não as inibe de libertarem os leões e ficarem a assistir à matança até ao fim.

Para quem ainda está longe dos 30 (falta uuummm!), não tem namorado certo, nem vive com ele há vários anos (basta 2/3 anos), ainda não atingiu a estabilidade financeira e uma vida plena e tranquila, talvez ainda não tenha adivinhado o tema do post. Mas eu dou uma ajuda - "ENTÃO NUNCA MAIS TENS FILHOS?"

Se alguém desse lado tiver encontrado a resposta certa para esta NÃO-pergunta, mas atenção, porque tem que ser um argumento que possa ser empregue em qualquer circunstância e dirigido a qualquer ser (des)umaninazado. Para ser perfeita só se for mesmo "curta e grossa"! Acreditem que vos ficaria eternamente grata!

Algumas das frases que retive do fim-de-semana que passou:
  • "Uau! Estás tão gira e fit! Já tinhas um filho!" --> Pergunto-me porque é que mesmo de forma (in)consciente um elogio poderia terminar de uma forma tão maldosa?! Porque será que a minha geração com filhos crê-se autoridade reguladora da natalidade dos demais? 
Afinal, eu nunca sugeri o aborto a alguém depois de saber da boa-nova. Mais, nunca ninguém me bateu à porta ou ligou a perguntar se deveriam ou não ter um filho. Então se a minha opinião nunca foi importante para avançarem com essa decisão porque raio os mesmos pares agora me massacram com o assunto?! Se querem mais filhos que os tenham eles! O primeiro é o que custa mais, verdade?! Então, força, o segundo vai ser cagada! Se a maternidade é mesmo a última coca-cola do deserto que continuem a engordar a vossa vida, repito A-VO-SSA-VI-DA!
  • "Já me davas um/a sobrinho/a para brincar com o/a...". Será que alguém acredita que um dia uma pessoa vai resolver ter um filho só para não viver com a consciência pesada de ver o sobrinho brincar sozinho?
  • À minha pergunta: "Novidades?" Resposta: "Então, quando tens filhos?" Silêncio envolto em gargalhadas. "Se tiveres daqui a dez anos, na escola do teu filho vão dizer que és a reformada..." --> Posto isto, pergunto-me porque raio alguém com uma irmã (quase da idade da minha mãe e sem filhos) e com 3 filhas (nenhuma delas sem filhos), inclusive uma delas mais velha que eu!!! Depois do choque, perguntei-me onde é que esta senhora tem moral para abordar este assunto? 
Regressei a casa a pensar se realmente alguém que tece este tipo de comentários poderá estar consciente que há por aí muitas mulheres, ao contrário de mim, que sofrem horrores por estarem expostas a tratamentos de fertilidade há vários anos! Ninguém, no seu estado normal, partilhará numa conversa de circunstância os momentos mais penosos a que está sujeito, principalmente a alguém tão insensível e insensato! 

Posto isto, vamos parar com estas perguntinhas, sim? Ah! E perguntinhas sobre casório também não são bem vindas, boa?!

A gerência agradece!
JM

4 comentários:

  1. JM,
    Ao ler a tua publicação fico com algumas questões.
    A primeira é porque é que ficas tão revoltada e sensível com um tema que todas as mulheres com a nossa idade enfrentam. Sim, não és a única pessoa perto dos 30 anos e todas nós já ouvimos esse tipo de perguntas.
    A questão que se coloca é se sabes digerir estas perguntas da melhor forma...
    Tenho quase a tua idade e, por isso, já ouvi as mesmas perguntas. O que posso garantir é que estas perguntas não vêm de pessoas que acabámos de conhecer ou que simplesmente não nos conhecem. Nunca ouvi perguntas deste tipo vindas de pessoas que não conheço e que encontrei num café ou numa festa. Estas perguntas vêm de pessoas que já nos conhecem e que nos viram crescer. Tenho a certeza que estas perguntas vêm de pessoas que querem saber de nós e que se interessam pelas nossas vidas.
    O que está mal aqui é a forma como lidas com este tipo de perguntas. Existem tantas outras formas de lidar com isto sem ser com uma publicação revoltada. Podias simplesmente responder "eu agora não penso em ter filhos" ou "só quero ter filhos depois de casar" ou "eu nem quero ter filhos!" ou simplesmente "é um assunto que não quero falar"!
    Ficarias tão ofendida com a pergunta "quando é que casas?"? É que se ainda não te aconteceu, aviso-te já que é uma pergunta associada à nossa idade.
    Estamos em idade fértil e não podemos negar isso. Fisiologicamente esta é a altura para termos filhos e cabe a cada uma de nós saber lidar com isso.
    Eu não sei se queres/podes/pensas ter filhos, mas acho que devias aproveitar para apreender a lidar com um tema que fisiologicamente te vai perseguir durante uns aninhos.

    Kika

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    1. Faço minhas as palavras da Ana Catarina Jacinto. Tanta revolta num tema tão bonito e natural.

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  2. Este tema gera muitas questões. Eu sou uma das pessoas que já te fez esta pergunta, e no meu caso, a maternidade bateu à porta antes mesmo de me a perguntarem - estava sempre a ser massacrada com a “já tens namorado?” que é para bem da verdade ainda pior - como se fosses uma falhada que ficará para tia (ei-la) incapaz de agradar a um homem.
    Talvez a razão da pergunta, no meu caso (este ponto é importante referir) foi mais no sentido de ter percebido em primeira pessoa a ligação e o lado bom da maternidade, que suplanta sem dúvida os lados maus - e não sou ingénua, não é fácil e há momentos (bastantes) que adoraria ter uma vida emocionalmente mais independente. E como já referi no meu próprio blogue, depois da minha filha nascer percebi finalmente as razões que fazem mulheres (e homens) fazerem tudo por tudo para ter um, e as razões dos que não querem, ou para já, ou de forma alguma. Eu percebo perfeitamente quem adie e quem não os queira, tenho noção do que não posso ou poderei fazer. Mas, voltando ao início, percebi o que “is all about” e o que me ficou vedado que por vezes parece tão pouco importante e a pergunta era mais no sentido de achar engraçado a minha melhor amiga sentir isso.

    Tens de ver de quem parte a pergunta e como ela é feita. A maioria das pessoas vê a vida como um conjunto de regras gerais a cumprir. Sê directa na resposta. Haverá quem a pergunte com o intuito de espicaçar ou criticar, outros achando que estão a motivar (!!!) e outros será uma maneira de saber se queres ou pensas ter ou não e mais nada.

    E olha, esta mal tem um ano e apesar de tudo falam-me do segundo. Quando o fazem eu só lhes pergunto se estão a gozar comigo. Eu não faço questão que lhe dês um primo, mas faço que lhe sejas uma tia :)

    (Ana)

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  3. Joana,
    Sou bastante sensível a este tema por várias razões e também acho que ninguém tem de estar a fazer essas perguntas. No entanto, a tua reacção parece-me um pouco desajustada, desculpa... Este post é tão revoltado que dás pelo menos duas grandes calinadas e escreves num discurso meio entrecortado, com algumas frases difíceis de entender... Digo-te já que, pela minha experiência, a pressão está ainda a começar e é melhor começares a lidar com isso de forma mais calma, senão os próximos anos serão muito desgastantes. Podes experimentar ser mais assertiva nas respostas ou ganhar coragem e informares educadamente as pessoas que não pretendes discutir esse assunto. Se eu fosse tua amiga e tivesse perguntado algo sobre isto, como uma comentadora acima, ficaria a sentir-me terrivelmente mal por descobrir desta forma o que sentes.
    Não acho que tenhas de aceitar perguntas e comentários sobre isto, mas aconselho-te a encarar isto de forma mais ponderada, pela tua própria paz de espírito.
    Beijinho

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