terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Martin Luther King Jr. Day

Cari ragazza!!

Ontem, aqui nos Estados Unidos, comemorou-se o primeiro feriado nacional do ano, em homenagem ao Martin Luther King Jr. É comemorado sempre na terceira terça-feira do mês de Janeiro, data próxima do seu aniversário - 15 de Janeiro de 1929. 


King é considerado um dos maiores activistas políticos em prol dos direitos civis dos negros nos EUA, onde todas as campanhas que liderou foram pacíficas e assentes no amor pelo próximo. E porque "um povo que não conhece a sua História está condenado a repeti-la", a sétima arte voltou a imortalizar esta figura no grande ecrã. "Selma" conta com actores (e não só) de renome: David Oyelowo, Oprah Winfrey (sim, eu sou mais uma fanática desta mulher), Carmen Ejogo, Tim Roth, entre outros e promete ser mais uma biografia obrigatória para toda a família ver!
Se um bilhete de cinema aqui não custasse $15 dólares (sem pipocas, sem nada!!), confesso que ontem teria sido um dia fantástico para me estrear nestas andanças. Mas como um dia não são dias... espero sinceramente que esteja para breve o meu regresso à escuridão de uma sala de cinema! 


Trailer do filme Selma aqui!

Pergunto-me: quantos mais homens como estes serão "silenciados" ou quantos mais anos serão necessários para terminar de vez com a discriminação social e/ou racial neste país... Afinal de contas, sendo este um país de "imigrantes" estranho/repugno em saber que a sociedade divide a sua própria sociedade em "imigrantes de primeira" e "segunda" categoria. Atenção, pára tudo! É que excepto os índios (de pele avermelhada) todos nesta terra são imigrantes! Aqui, na terra "mais livre do mundo", as pessoas continuam a não ser o Joaquim, o Francisco ou a Antónia, são os "judeus", os "europeus", os "asiáticos" ou os "negros". E depois desta categoria ainda são "arrumados" por esta ordem:

  1. Judeus (muito ricos, merecem muito/TODO o respeito);
  2. Europeus (endinheirados, muito instruídos, carregados de História e Tradição fazendo invejar qualquer americano <nota, também ele imigrante, mesmo tendo nascido cá>. Contudo, só merecem o respeito destes consoante o país Europeu de origem... Por exemplo, dizer-se que se é inglês ou francês aqui é meio caminho andando para as coisas correrem bem, mas se for português, como eu, mais vale dizer: "sou europeia" porque  para eles Portugal é o mesmo que um país esquecido no meio de África...);
  3. Asiáticos (pobres, mas bastantes humildes e trabalhadores. Para os americanos se eles nunca saírem de Chinatown está tudo bem!);
  4. Negros (escravos de um presente sem prazo de validade);

Basicamente é assustador que ainda hajam tantas desigualdades nesta terra de ninguém. Num país erguido por imigrantes e acima de tudo mantido por eles... Não é justo que se fale do sistema de castas indiano, quando aqui se passa exactamente o mesmo. 
Repare, se se tem o azar de nascer aqui "preto, chinês ou francês" (perdoem-me o vocabulário), dificilmente esta criança conseguirá romper com o ciclo que já lhe foi traçado à nascença. Porque os orçamentos para uma alimentação saudável, saúde e educação ainda só estão à disposição de uma minoria, curiosamente também ela imigrante. Pena que esta mesma elite de abutres afortunados que tão bem conhece a sua história esteja sistematicamente a repeti-la... Talvez as Harvards e as Columbias aqui do sítio estejam a necessitar de rever os seus conteúdos... 
No fundo, imigrar para este país é o mesmo que se sujeitar à casta de imigrante ilegal para todo o sempre. Ou viver na esperança de encontrar um americano para casar. E só depois disto, sonhar/lutar pelo seu lugar ao sol. Rezando a todos os santinhos que o dinheiro que se trouxer para casa chegue para ter um tecto com as mínimas condições, um seguro de saúde (o mais baratinho aqui custa $250 por mês), dinheiro suficiente para pagar a faculdade a um filho (as propinas podem variar entre os 15 a 20 mil dólares (anuais, as mais baratas). E depois das despesas pagas que sobrem uns trocos para curtir a vida!
Na terra das oportunidades só há oportunidades para os realmente bons/excepcionais, se não o és eles vão buscar outro ali ao lado e de preferência "americano".

Regra máxima dos aMERDicAnoS: Aqui, toda a gente é substituível!

5 comentários:

  1. Calma...... os EUA são isso tudo mas também são uma fonte de oportunidades para quem quiser e tiver sorte. Como dizes, quase todos são emigrantes e muitos deles fizeram fortuna nessa terra (sem olhar a raças). A distinção de raças há de acontecer sempre e ainda bem, pois as pessoas são realmente culturalmente diferentes. Não há problema nenhum em afirmar que as pessoas são diferentes e chamá-las pelos nomes: asiáticos, pretos, árabes, judeus, europeus.

    Aproveita o que a vida te está a dar e curte as coisas boas!
    Mariana

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  2. Custa muito fechar os olhos a esta realidade Mariana. Os sem abrigos estão por toda a parte... Esquecidos e aos caídos nas ruas geladas, no chão (mais ou menos quente do metro) ou à porta das grandes cadeias de fast food. Sempre que olho para quando um deles (os mais jovens) penso: poderia ter sido o meu pai... E isso deixa-me sem forças. Qualquer um de nós poderia estar ali. E se vejo uma mulher nestas condições fico com imenso medo de acabar assim, porque se não houver cabeça é tão fácil acabar assim. Se não tivermos as pessoas certas do nosso lado é mesmo super fácil terminar assim. Graças a Deus estou rodeada aí e aqui de pessoas que me têm ajudado iiiimenso caso contrário tudo isto que estou a viver teria sido impossível.
    Claro que há vários motivos que levam uma pessoa a ser sem-abrigo. Eu já tinha pensado nisso em Portugal e cheguei à conclusão que são pessoas que em vez de se suicidarem, desistem de si próprias. Não aceitam ajuda de familiares nem instituições. Querem viver à margem da sociedade porque deixaram de encontrar um único motivo que os faça agradecer a dádiva da vida.
    Mas aqui há milhentos sem abrigos porque as condições de trabalho são HIPER/SUPER/MEGA precárias! Hoje em dia, é possível ter um trabalho ilegal (em restaurantes, bares, lojas, babysistter), mas amanhã isso pode acabar porque o teu patrão pode preferir trocar-te por uma pessoa americana (legal) e tu ficares desempregado um bom par de meses/anos... Tudo isto, porque só as grandes empresas é que estão dispostas a pagar 5/6 mil dólares para te legalizarem. Mas se vão à entrevista 10 pessoas legais e 3 ilegais porque raio é que eles iriam contratar um ilegal e ter essa despesa com uma pessoa que ainda não conhecem? Claro que preferem não correr esse risco! Por isso essa ideia da "terra das oportunidades" só é real para quem tenha uma mega ideia tecnológica fantástica e precise de financiamento para a colocar em prática, ou um músico ou actor que consiga privar com um manager top e que este o ajude a chegar aos tops ou a um êxito de blockbuster! Ou seja, aqui realmente há um mundo de oportunidade, mas é preciso teres muuuuita sorte de privar com aqueles que te podem ajudam na rampa de lançamento, caso contrário serás apenas mais um... Se em Portugal há mil cães a um osso, aqui há 1 milhão... Mas se em Portugal tens sucesso é à conta desses mil, mas se aqui tens sucesso tens logo um milhão de apoiantes com que podes contar... No fundo, é tudo uma questão de perspectiva...

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  3. Joana, comentei há tempos no seu blog sobre precisamente este tópico, se bem que a Joana aqui expandiu-o mais. Na altura mencionei que tinha vivido em NY e agora vivo noutra cidade dos EUA e que apesar dos EUA ser uma país único (sobretudo NY é uma cidade muito especial sobretudo para estar a curto prazo, na minha opinião) é um país assustador precisamente pelos motivos que a Joana apontou: a falta de apoios ao infortúnio. É muito complicado arranjar patrocínio para um visto de trabalho e mesmo para os que tiveram a sorte, como eu, de ter um trabalho legal nos EUA, dada a falta de apoios, nunca se sabe o dia de amanha, pois se ficar sem trabalho perde-se o seguro de saúde e não há apoios praticamente nenhuns ao desemprego (o subsidio de desemprego aqui só para mesmo para as despesas de supermercado básicas). Por isso entendo muito bem o que dizes, que a olhar para os sem abrigo e conhecendo melhor a realidade dos EUA, percebe-se facilmente que não é tão surreal ficar naquela situação. Felizmente a Joana parece ter uma boa rede de apoio familiar em Portugal e isso nunca lhe aconteceria, mas deixa de facto uma pessoa a pensar...

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  4. Mais uma coisa, em relação aos vistos de trabalho, além de ser difícil conseguir que uma empresa faça uma job offer a um estrangeiro, ainda há o problema acrescido de que nos últimos 2 anos a atribuição de vistos foi feita através de uma lotaria. Ou seja, como houve maior número de candidatos do que o número de vistos disponíveis, foi feita uma lotaria e portanto obter um visto em 2014 e 2013 foi mesmo uma questão de sorte ou azar...

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  5. Catarina (fit_in_macau)22 de janeiro de 2015 às 09:20

    Muito triste se a realidade é essa.
    Mas mesmo assim não compararia ao sistema de castas na índia. O sistema de castas na índia é uma das coisas mais chocantes que alguma vez estudei. Nada se compara aos chamados "intocáveis".Os intocáveis na sociedade hindu são aqueles que trabalham com trabalhos considerados indignos, sujos, lidando com os mortos (animais ou pessoas), com o lixo, ou outros empregos que requerem constante contato com aquilo que o resto da sociedade indiana considera abjeto e desagradável. São considerados individualmente imundos, impuros, e portanto não podem ter contato físico com os 'puros', vivendo separados do resto das pessoas. Ninguém pode interferir na sua vida social, pois os intocáveis são considerados menos que humanos e não são considerados parte do sistema de castas. Embora tenha sido abolido pela constituição, observa-se, na prática, que muitas comunidades continuam ligadas aos empregos que lhes eram destinados tradicionalmente, casam-se entre si e sofrem a discriminação da sociedade circundante, o que pode ser visto como resquício da sociedade de castas.Nenhum intocável pode entrar no templo, pois iriam poluí-lo.

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