quarta-feira, 22 de março de 2017

Colesterol - o (falso) vilão III

Cara ragazza!!

Quem já se cansou do tema colesterol? Infelizmente, ainda não poderei ficar por aqui, porque é importante não deixar de alertar para os perigos dos valores (verdadeiramente) altos de colesterol no sangue... E como reverter de forma natural essa situação no organismo. 




Num outro podcast dedicado ao tema, o Dr. Rodrigo questiona o Dr. Souto sobre os valores de um leitor do blog: low carb há 5 meses, com Colesterol Total 424, HDL 60, LDL 338 e triglicerídeos 130. Importa referir que o médico deste paciente constatou que o leitor sofre de uma doença chamada dislipidemia hereditária familiar. No caso dele, é o número 3 (grave) e como tal terá que tomar medicamentos para o resto da vida, para baixar o colesterol. 

Posto isto, o Dr. Souto pergunta-se se é mesmo necessário realizar um dieta low carb high fat uma vez que o leitor não pretende perder peso. Indicando que se o objectivo é pura e simplesmente aumentar a saúde, bem-estar e longevidade, o mais apropriado para ele é seguir uma deita paleo. No fundo, se ele não é diabético nem sofre com excesso de peso então não se justifica uma restrição tão severa dos carboidratos. 

Porém, uma vez que o colesterol está fortemente associado ao consumo de gorduras ele obriga-nos a reflectir sobre o termo “high fat”. Começa por dizer que alguns autores da língua inglesa adoptaram uma nova designação  de  “LCHF” trocando o High pelo Healthy, resultando em “Low Carb Healthy Fat” – ou seja, baixo carboidrato e gordura saudável. E eu não poderia estar mais de acordo.  

O “high fat” que nós traduziríamos como “alta gordura” às vezes acaba sendo interpretado de uma forma pouco adequada. Uma dieta de baixo carboidrato será high fat quando comparada com a quantidade de gordura na dieta que a maioria das pessoas faz. Uma vez que a maioria das pessoas come tudo desnatado, procura as versões com restrição de (ou sem) gordura, tira a pele do frango, come apenas a clara do ovo. A maior parte das pessoas que busca isso acha que está fazendo bem para a sua saúde... 

A dieta que propomos aqui é uma dieta high fat (de alta gordura). Mas muita gente interpreta “high fat” como “quanto mais gordura melhor”. “Se um pouco de uma coisa é bom, muito dela deve ser melhor...”. E Isto normalmente não é verdade. Uma vez eu atendi um casal no consultório. Os dois queriam fazer uma dieta low carb para perderem peso. Então, eu os orientei nesse sentido. Dois meses depois, os dois retornaram e tinham perdido peso. Normalmente, o homem perde mais peso do que a mulher, como aconteceu naquela situação. A mulher disse: “Doutor, eu acho que ele está exagerando na gordura.” Eu perguntei: “Porquê?” Ela disse: “Quando vamos comer uma picanha, eu corto fora a capa de gordura, porque eu não gosto. Ele come a picanha dele com a capa de gordura e come a capa da minha picanha também.” Eu disse para ele: “Eu acho isso realmente um exagero.” A capa de gordura pura não tem uma alta densidade nutricional. Aquilo é só gordura. Aquilo seria como comer manteiga ou beber azeite. Não tem muito sentido comer gordura pura – seria como consumir exclusivamente calorias sem muitos nutrientes. É diferente de comer a carne (que tem uma densidade nutricional altíssima) e comer as gorduras entremeadas nas fibras da carne, mesmo que eu tire a capa grossa de gordura. A resposta do marido desse casal foi: “Mas o senhor disse que podia comer gordura.” Ele tinha entendido que quanto mais gordura, melhor. 

Nisso a genética manda: tem pessoas que podem comer quantidades muito grandes de gordura e mantêm seus lipídeos normais e mantêm o colesterol em níveis aceitáveis. Já outras pessoas, se consumirem uma quantidade grande de gordura vão poder desenvolver um quadro de dislipidemia como esse. Para dizer que isso é uma hipercolesterolemia familiar, teria que saber desse nosso ouvinte se o colesterol dele já era assim antes dele fazer a dieta. Pela pergunta, tenho a impressão de que não. Se ficou assim depois, não tem cabimento resolver isso com remédio. O ideal seria modificar sua dieta para resolver o problema. 

Sim, 400 de colesterol é um problema. Nós já falamos que o colesterol total isoladamente não é uma métrica importante. Ele praticamente não tem valor preditivo no que diz respeito a doenças cardiovasculares. Temos que avaliar o colesterol total junto com o HDL e com os outros marcadores. Se uma pessoa tem 230 de colesterol total e 70 de HDL, ela não precisa fazer nada para baixar seu colesterol porque a relação entre colesterol total e HDL (um dividido pelo outro) está excelente. Uma boa parte da “elevação” do colesterol total da pessoa é às custas do HDL, que é uma coisa boa. Se a pessoa tivesse 180 de colesterol e um HDL de 30 estaria num risco cardiovascular muito maior do que uma que tem 230 e HDL de 70. Então, é comum numa dieta low carb que a pessoa tenha uma elevação do colesterol total concomitantemente a uma elevação do HDL. Isso é até uma evolução favorável. 

Obviamente, isso não se compara com a situação desse nosso ouvinte que está com 400 de colesterol total, e 300 e tantos de LDL. Isso é sim um fator de risco cardiovascular. Isso não pode ficar dessa forma. Mas eu repito: se não era assim antes, por que ele teria que tomar remédio o resto da vida? 

Nestas situações, o Dr. Souto sugere o seguinte:
  1. Descobrir se o “high fat” não está sendo sobrevalorizado no sentido de ele estar a consumir mais gordura do que o recomendável, acrescentando mais gordura além da gordura natural dos alimentos. 
  2. Se efectivamente se prova que ele tem tendência familiar (hereditária) a dislipidemia, ele deverá fazer modificações nos seus hábitos alimentares. Tais como: evitar a gordura das carnes gordas, diminuir a quantidade de bacon, banha, manteiga ingeridas. Priorizar o consumo de peixe (salmão e sardinha), frutos do mar, nozes, castanhas, abacate, azeite, e outras gorduras insaturadas.

Apesar dos alimentos mencionados acima possuírem altos níveis de gordura, são todos eles gorduras saudáveis. A tolerância alimentar de cada indivíduo é que irá indicar quanto uma pessoa pode consumir determinada gordura sem nunca desenvolver uma alteração nos lipídeos. Alguém que desenvolve uma dislipidemia com 300 de LDL e 400 de colesterol total não pode comer a quantidade de carne gorda que talvez outras pessoas possam. Isso não significa que a pessoa tenha que abandonar uma dieta low carb. Significa que ela tem que fazer uma dieta low carb com gorduras saudáveis (healthy fats). As mono insaturadas e as insaturadas presentes nos alimentos tendem a ajudar nesse sentido.

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